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Arquitetos: UNA Arquitetos
- Área: 6199 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:Nelson Kon, Bebete Viégas
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Fabricantes: Reka Iluminação, Screens, Stamp
Descrição enviada pela equipe de projeto. A rua Maria Antônia é uma referência na história da Universidade de São Paulo (USP) e um marco na vida cultural e política da cidade. Torna-se catalisadora de discussões acadêmicas e sociais com a instalação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras no nesse endereço em 1949.
Após a violenta invasão do edifício por um grupo de estudantes de direita, acompanhado pela polícia, em 1968, a Faculdade de Filosofia foi transferida para a Cidade Universitária. A relevância desses acontecimentos definiu a razão de tombamento do edifício construção principal do conjunto.
O projeto de reforma e restauro procura adaptar o conjunto (Ed. Rui Barbosa e Joaquin Nabuco) ao novo uso, um núcleo de arte contemporânea que aglutina espaços expositivos, salas para cursos teóricos e práticos, o Teatro da Universidade e tem como questão central afirmar o caráter público que historicamente marcou esse patrimônio da USP. A proposta inclui o restauro das fachadas principais e mantém intacta a volumetria dos edifícios Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, mas propõe uma nova relação do conjunto com a cidade. A área livre entre os dois prédios ganha a dimensão de espaço público, conformando uma pequena praça. No nível da rua, essa praça é o alargamento natural da calçada e define um acesso convidativo ao conjunto. No nível inferior, um pátio arborizado realiza a conexão entre os dois edifícios, criando, para o teatro, um lugar de apresentações ao ar livre. Requalificar os espaços livres, oferecendo uma ligação generosa do conjunto com a cidade, é a contribuição do projeto para a memória do movimento acadêmico, cultural e político que teve sede à rua Maria Antônia.
As intervenções mais significativas ocorreram no Edifício Rui Barbosa. O projeto mantém a organização espacial do prédio, caracterizada por uma escada central e três salões de tamanhos distintos. A abertura da varanda lateral revelou a parede original da construção primitiva do edifício, da primeira década do século XX. O salão maior, voltado ao interior do lote, não possuía laje, tanto no térreo como no primeiro pavimento; seu piso era constituído de barrotes e assoalho de madeira, totalmente comprometido pela ação de fungos e cupins. Essa estrutura foi substituída por peças metálicas e laje de concreto, dimensionada de acordo com seu novo uso, possibilitando exposição de obras com carga concentrada. Como conseqüência, a fachada lateral, absolutamente inexpressiva, passa a revelar essa intervenção e requalifica o plano que se volta ao novo espaço público. O brise, que ocupa grande parte dessa fachada, é um filtro industrial composto por fios de aço inox. Os painéis vieram modulados da fábrica e parafusados na estrutura metálica.
No térreo estão as salas de exposições, uma delas com amplas aberturas para a rua Maria Antonia. O nível inferior é ocupado por espaços de serviço, reserva técnica, além de um café e uma sala de dança e música. E no primeiro andar, mais três salas de exposição, de dimensões distintas.
O projeto revela os diversos tempos dos edifícios e o conjunto de transformações que acompanharam seus distintas ocupações. Articula espaços remanescentes, fundo de lote, edifícios originais e novas construções através de praças, rampas e uma passarela. O Centro Universitário Maria Antônia não é um edifício, mas fragmentos interligados, partes articuladas de um centro urbano densamente ocupado. Utilizado especialmente por estudantes e também por grande diversidade de pessoas, característica marcante do centro de São Paulo, o projeto da Maria Antonia é uma hipótese sobre intervir na cidade consolidada. Uma reflexão sobre construir a partir da cidade existente, com um patrimônio frágil nas suas qualidades arquitetônicas, sobre suas relações com a memória urbana e as transformações desejáveis na região central de São Paulo.